Hoje Macau: Activistas da Guia saíram à rua

Liga organizou conferência ontem de manhã no Farol
Activistas da Guia saíram à rua

Hoje Macau 05-02-2007
Island Ian --

Teve ontem lugar a primeira acção pública da Liga para a Protecção do Farol da Guia. Eram nove da manhã quando várias dezenas de pessoas subiram o Monte da Guia e, lá em cima, deram a cara por uma “batalha” que até aqui vinha sendo feita quase sob anonimato, e tendo por base de operações e dinamização da opinião pública o blog http://guialighthouse.blogspot.com. Estudantes, professores e alguns mais residentes que não se identificaram deram as boas vindas as dois historiadores convidados, Wong Chão Son e Chan Su Weng, que explicaram a história do monumento e a importância de o manter salvaguardado da sombra dos potenciais arranha-céus. Em causa está, foi essa a principal conclusão, a memória colectiva de Macau.A convocação do encontro foi feita através daquele blog na Internet e a afluência demonstra a popularidade do tema nos círculos culturais e estudantis da RAEM. Ng Sio Mei, uma estudante universitária apresentada como a porta-voz da Liga, abriu as hostes afirmando que “a forma como o Governo da RAEM está a aplicar a protecção do Património Mundial de Macau não está em conformidade com os princípios aplicados no resto do mundo e recomendados pela própria Unesco.” Aos presentes, Ng insistiu que este caso levanta uma preocupação generalizada, na medida em que o exemplo pode vir a dar-se com outros monumentos classificados. “O rápido desenvolvimento da RAEM tem-nos feito preocupar com a protecção do património de Macau, pelo que não hesitamos em organizar actos públicos para a consciencialização da população.” Sobre o caso concreto do Farol da Guia, cuja envolvência está potencialmente ameaçada por arranha-céus, Ng disse estar a Liga disposta “a fazer tudo ao seu alcance para alertar o público para o perigo que o monumento corre, é preciso chamar a população para todos salvarmos o Farol.” Sobre o carácter da iniciativa, Ng foi pragmática: “Às vezes é preciso levantarmos a voz para sermos ouvidos sobre as nossas preocupações.”Instada pelos jornalistas presentes a revelar qual a próxima iniciativa da Liga, Ng foi evasiva. “Nós não temos uma agenda, queremos apenas expressar a nossa preocupação e temos conseguido fazê-lo através do blog, vamos continuar a debater ideias e é natural que algumas dessas ideias se transformem em acções de sensibilização.” Ficou também o convite a “todos quantos queiram juntar-se ao grupo”. A identidade dos outros dinamizadores da Liga não foi, porém, revelada.Desconhecimentoé o mais graveOs historiadores Chan Su Weng e Cheang Kuok Keong, presidentes da Associação de História de Macau e da Associação para a Protecção do Património Histórico e Cultural de Macau respectivamente, deixaram sobretudo apelos ao Governo, no sentido de este levar mais a sério a necessidade de proteger a envolvência, e consequentemente a identidade, dos monumentos históricos de Macau. Perante um grupo de algumas dezenas de pessoas, Chan mostrou-se algo preocupado com o desenvolvimento da área vizinha à Colina da Guia, chamando a atenção para os sete lotes de terra ainda vazios na Avenida Rodrigo Rodrigues e “o facto de, até hoje, ninguém saber o que para eles está projectado”, excepção feita às novas instalações do Gabinete de Ligação do Governo Central na RAEM. Para o historiador, é importante que o Governo “acompanhe com bastante rigor os projectos pensados para ali, por um lado, mas também que torne pública a dimensão desses empreendimentos.” E, numa mensagem dirigida aos empresários, apelou à sua sensibilidade e instou-os a “também eles, investidores, levarem a sério a protecção do património.”Para Chan, uma das actuais grandes ameaças à integridade do património arquitectónico de Macau partiu das próprias autoridades, quando “reajustaram as zonas tampão dos monumentos, onde a construção é controlada.” “A redução de algumas destas áreas é uma ameaça séria, e não só para o Farol da Guia. Há perigo também, por exemplo, para o Templo de A Ma.” Para a protecção efectiva do Farol, Chan acredita que a única ferramenta ao dispor do Governo é “legislar.”No blog, ontem, estava em destaque um apelo à população, instando os que estão preocupados com o futuro do Farol a enviarem as suas inquietações à Unesco e à Administração Cultural Estatal, da RPC.